Santuário de Nª Srª dos Remédios
“Sem dúvida será huma das maravilhas do Mundo, ou ao menos do Reino, se não affrouxar a devoção e se completar o desenho das obras.”
Cónego João Mendes de Fonseca
Monumental e admirável são só alguns dos muitos adjectivos com que podemos classificar esta construção, a igreja e o escadório fazem dela um dos mais belos monumentos de Portugal. Sobranceiro a toda a cidade, o Santuário Mariano de notável talha setecentista, foi erguido no frondoso parque, descendo ao longo dele o majestoso escadório que liga a capela de Nª Sª dos Remédios ao centro cidade de Lamego, que fica assim a seus pés. A devoção e o sentido espiritualista, embora não descurada de todo, tem vindo a dar lugar ao turismo, á admiração e maravilha por tão bela construção que o séc. XVIII e restantes nos deixaram.
O Parque ergue-se viçoso no monte de Santo Estevão, cobrindo a totalidade do mesmo. No seu cimo aparece a igreja de Nª Sª dos Remédios, e cortando a verdura no sentido descendente o sublime escadório. Ao lado da igreja encontramos o Hotel Parque e um pouco mais atrás o estádio dos Remédios bem como todo o complexo desportivo de Lamego. Pelo meio do parque podemos apreciar, além de todo o escadório, o lago dos patos, as duas grutas, os caminhos delineados pelos arranjos de jardinagem, a carreira central, um coreto, etc.
Por volta do séc. XIV existiu naquele monte uma pequena capela dedicada a Santo Estevão, apesar de modesta, a capela já atraía alguns fieis. É por esta razão que em 1564 D. Manuel de Noronha ergue uma capela de maiores dimensões, mas desta vez em devoção a Nª Sª dos Remédios, cuja imagem teria sido encomendada a Roma pelo mesmo. Já no séc. XVIII a imagem de Nª Sª dos Remédios, talvez por ter vindo de Roma, atrai muitos fiéis que deixavam, alguns deles, avultadas esmolas para a Virgem. São deste tempo as primeiras festas em sua honra, apesar de por esta altura serem só de manhã nos dias 5 de Agosto de cada ano. Chegados a meados do séc. XVIII, mais precisamente no ano de 1750, lança-se a primeira pedra do Santuário tal como o conhecemos hoje, e é o Cónego José Pinto Teixeira que toma para si o encargo da edificação do actual santuário, enquanto Nicolau Nasoni encarrega-se das plantas e desenhos. Em 1761 é benzida a capela, que figurava agora mais acima da anterior, ou seja no local onde hoje a conhecemos, mas ainda sem as suas duas torres. Os trabalhos na capela e no escadório iriam existir por muito tempo ainda.
No ano de 1880 dá-se inicio ao levantamento da torre sul da capela dos Remédios, desenhada pelo arquitecto Augusto de Matos Cid e construída pelo mestre Manuel Domingos Barreira, ficando concluída passados seis anos. Mas é só no ano de 1905 que finalmente termina a construção da torre norte da igreja, pela mão do Mestre José Luís Perpétua. Iniciado no último quartel do Séc. XVIII, o escadório dos Remédios é uma das mais belas obras da corrente barroca, típica arquitectura aristocrática desta altura.
Descidos os primeiros lanços das escadas até ao patamar anterior ao Pátio dos Reis, deparamos com os primeiros azulejos, é com este tipo de arte que são revestidos todos os muros centrais do escadório. Este revestimento, dá-se no ano de 1952, sendo já de 1969 a parte nova do escadório, ligando o mesmo á Av. Dr. Alfredo de Sousa, ou seja ao centro de Lamego.
Não menos merecedor de atenção são os vitrais do corpo da igreja, onde apreciamos a coroação da SSma Virgem, o nascimento do Menino Jesus e a alegoria de Maria, Mãe da Igreja. Na parede sul da Capela-mor, sob o arco, abre-se uma elegante janela, enriquecida por um vitral, no qual aparece Nª Sª da Conceição. Por cima da janela apreciamos outro vitral, este um pouco mais moderno, com um coração coroado de espinhos, é o Sagrado Coração de Jesus. Na Capela-mor somos dominados pela majestade do retábulo da mesma. Aqui se venera o SSmo Sacramento e no alto do trono, tão característico dos finais da corrente barroca em Portugal, está a imagem da Padroeira da Cidade. Esta capela octogonal está coberta por uma bela abóbada com 14 arcos de granito, ostentando o brasão português no ponto de encontro.
O tecto da igreja é em estuque, denotando-se a perfeição da execução dos seus desenhos. Do centro do tecto, parte um candelabro de bronze com 36 velas, adquirido no Séc. XIX em Viena de Áustria. Bonitos são os altares, de Santa Ana e São Joaquim, devido ao trabalhado dos mesmo, ás imagens, esculturas e adornos neles existente. De realçar são também os belos azulejos onde predomina a cor azul e de quando em vez o amarelo e o castanho e as quatro portas barrocas, com borlas e pingentes, são duas para os confessionários e outras duas para o acesso à antiga sacristia, hoje sala dos retratos. No coro podemos ainda apreciar o notável órgão do ano de 1820, com restauro de 1989 pelo organeiro Sr. António Simões.
Já no adro da igreja podemos admirar, em frente á igreja, a belíssima cruz de granito que anuncia o princípio do escadório. Do lado esquerdo da igreja (de quem está virado para a mesma) encontra-se o Hotel Parque, antiga “Casa dos Peregrinos” e a fonte, mais um belo trabalho de Nasoni, anterior ainda á própria igreja dos Remédios, cerca de dez anos. A fonte foi construída no ano de 1738 tendo sido terminada no ano seguinte. De notar mais uma vez o estilo Barroco, quase sempre presente nas obras deste artista italiano, onde se dá grande valor aos pormenores decorativos como flores e folhas, bem como outros objectos onde predomina a forma curva. A fonte é em granito, material predominante nesta zona do país.
Ao longo da descida do escadório vários são os sítios de grande interesse, sendo de destacar o do primeiro patamar, logo a seguir á Igreja, passado o primeiro lanço de escadas. Este sítio chama-se Pátio dos Reis e é um amplo recinto em terra batida é dotado de uma grande riqueza arquitectónica, ao seu centro podemos ver uma taça onde, no seu meio, quatro gigantes lançam água das suas bocas e suportam uma grande coluna relativamente alta e ricamente lavrada, tendo no seu topo uma estrela. Este bonito monumento, talhado em granito, chama-se Obelisco dos Gigantes e foi edificado em honra da Santíssima Virgem. Desta taça descem umas escadas, em todo o seu contorno. É em 1813 que o Pátio dos Reis se edifica, pela mão do escultor António de Sousa, sendo portanto a sua construção mais recente que a da Igreja.
Em redor do Pátio aparecem os Reis, figuras de granito postas no alto de colunas. A ideia inicial era criar a genealogia de Jesus, representando os 18 últimos nomes da Casa de David, daí se chamar a este sítio o Pátio dos Reis. São eles: Joatão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amão, Josias, Jeconias, Salatiel, Zorobabel, Abiud, Eliacím, Azor, Sadoc, Aquim, Eliud, Eleázaro, Matão e Jacob. O Pátio dos Reis é assim um dos mais belos patamares de todo o escadório de Nª Srª dos Remédios.
Continuando a descida encontramo-nos agora no Pátio de Jesus, Maria e José, da Sagrada Família ou do Desterro. Aqui somos atraídos pela elegante capela, de planta hexagonal, que ostenta um brasão episcopal. Do lado oposto surge a não menos bela fonte da sereia, embora a figura que decora a fonte ser um Tritão em cima de um golfinho, mas as pessoas consideraram que era uma sereia... Chegados á fonte do Pelicano damos para um lado com a Avenida das Tílias e para o outro o caminho para igreja de Santa cruz, era aqui que findava o antigo escadório.
Apesar de construção recente (acabada em 1969), o desenho da parte nova do escadório foi respeitado ao pormenor, não se dando conta, agora, da sua frescura de idade, a não ser, talvez, pela cor mais "branca" da pedra. No dia da inauguração do novo escadório, o Ministro das obras publicas de então,
Eng. Eduardo Abrantes, afirmou: “Estou arrependido de não ter aprovado a outra alternativa, (fazer passar a estrada para Castro Daire por baixo do escadório e não interseptando-o na perpendicular), mas naquela data estava tão asfixiado com a falta de verbas, que não me era possível”. Desembocado em pleno centro da cidade de Lamego, o escadório afigura-se encosta acima ao longo dos seus 686 degraus, levando todos os anos milhares de fiéis, vindos de Portugal e estrangeiro...
Este monumento é na sua totalidade um dos mais belos de Portugal, e como causa disso recebe milhares de visitantes por ano, mas o número de visitantes aumenta e muito durante as festas de Nª Sª dos Remédios, que todos os anos se realizam nesta cidade. Sendo coincidentes com as Festas da Cidade, são normalmente designadas de “Romaria de Portugal”. Começam em finais de Agosto para só acabarem em meados de Setembro. Durante este tempo existem três dias principais que são 6, 7 e 8, hoje em dia são os dias de maior folia, outrora eram os dias da feira franca anual.