VÍBORA-DE-SEOANE
Víbora de Seoane, Iberian Adder
DISTRIBUIÇÃO GLOBAL
É um quase-endemismo da Península Ibérica, penetrando apenas alguns quilómetros no extremo sudoeste de França (Gasc et al., 1997). Ocupa o Noroeste de Portugal e o extremo setentrional de Espanha, quase toda a Galiza, áreas costeiras da Cantábria, áreas montanhosas de clima atlântico do norte de León, Palencia, Burgos, Álava e Navarra e, também, o extremo oeste de Zamora (Saint-Girons & Duguy, 1976; Braña, 1978, 2002; Bea, 1985). Pode ser encontrada desde o nível do mar até aos 1900 m, na Cordilheira Cantábrica (perto do pico de Tiatordos; Braña, 1998), sendo mais frequente abaixo dos 1500 m de altitude (Braña, 2002). Em França é conhecida numa estreita faixa de cerca de 10 km de largura por 60 km de comprimento, nos Pirinéus Ocidentais, onde ocorre em quatro sectores: i) ao longo da costa atlântica até Saint-Jean-de-Luz, ii) na floresta de Sare, a leste de Rhune, iii) no alto vale dos Aldudes, e iv) nos maciços de Irati e Artxilondo (Duguy, 1975; Saint-Girons & Duguy, 1976; Saint-Girons, 1989; Boudarel et al., 1993; Pottier et al., 2001).
DISTRIBUIÇÃO NACIONAL
Em Portugal, todas as observações foram realizadas a norte do rio Douro, no Minho e em Trás-os-Montes, reflectindo uma distribuição descontínua, com populações isoladas e restritas a regiões montanhosas (Braña, 2002; Malkmus, 2004e). Apresenta um efectivo populacional dividido em três sub-populações isoladas: i) Paredes de Coura, ii) Castro Laboreiro e Soajo, e iii) Tourém, Montalegre e Larouco (Brito & Crespo 2002; Malkmus, 2004e). A víbora-de-Seoane é uma espécie típica de regiões de clima atlântico. O seu habitat é constituído por matos e bosques limítrofes de prados, pastos e lameiros, frequentemente rodeados por muros de pedra, matagais baixos (incluindo turfeiras), e clareiras de bosques, na proximidade de cursos de água (Saint-Girons & Duguy, 1976; Braña, 1978; Brito & Crespo, 2002). Ocorre entre os 300 e os 1200 m de altitude, na Serra de Castro Laboreiro (Brito & Crespo, 2002), mas 81% das localizações situam-se acima dos 900 m (J.C. Brito & F. Álvares, observações pessoais).
CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS
As populações desta víbora encontram-se associadas a zonas fragmentadas de habitat favorável, cuja destruição sugere um declínio dos seus efectivos.As principais ameaças que têm vindo a afectar as populações da víbora-de-Seoane são a perda e degradação do habitat por acção antropogénica devido, fundamentalmente, a i) fogos, ii) abandono da agricultura tradicional, nomeadamente o corte de fenos com gadanha em favor das máquinas industriais, e iii) a implantação de infra-estruturas urbanas. Estes factores de ameaça são comuns às populações que ocorrem na Galiza (Braña 1998, 2002) e têm causado a fragmentação das áreas de habitat favorável para esta espécie, tornando problemática a persistência, a longo-prazo, destes isolados. A mortalidade por atropelamento nas estradas constitui um factor adicional de ameaça, com efeitos consideráveis a nível local (Brito & Álvares, 2004).
TAXONOMIA E FILOGEOGRAFIA
Foi inicialmente descrita como Vipera berus seoanei (Lataste, 1879), mas diferenças acentuadas na morfologia externa permitiram a sua elevação a um estatuto específico (Duguy & Saint-Girons, 1976; Saint-Girons & Duguy, 1976). Actualmente, considera-se que as populações de Vipera seoanei se repartem por duas subespécies separadas por uma zona de contacto secundário, onde indivíduos morfologicamente distintos e intermédios podem ser encontrados lado a lado (Bea et al., 1984; Saint-Girons et al., 1986). Vipera s. cantabrica (Braña & Bas, 1983) ocorre apenas em Espanha, ocupando uma área que vai desde o norte da província de León até ao sudoeste dos Picos da Europa, assim como as montanhas orientais da Galiza e do Sudoeste das Astúrias, enquanto Vipera s. seoanei (Lataste, 1879) ocorre no País Basco, Cantábria, Astúrias, Galiza oriental e Noroeste de Portugal.A análise imunológica das proteínas do soro sugeriu, inicialmente, que V. seoanei corresponderia a uma linhagem que se teria diferenciado das víboras europeias dos grupos berus e aspis durante o Mioceno (Herrmann & Joger, 1997).Análises posteriores de DNA mitocondrial recuperaram o grupo berus-seoanei como taxa irmãos e diferenciaram-nos das víboras da Europa de Leste, V. dinniki e V. ammodytes (Lenk et al., 2001a; Garrigues et al., 2005).A origem de Vipera seoanei poderá remontar ao Pleistoceno inferior, quando víboras do tipo berus colonizaram a maior parte da Europa (Szyndlar & Rage, 2002). Períodos glaciares posteriores terão, subsequentemente, provocado o isolamento das populações que mais tarde viriam a originar V. seoanei (Bea et al., 1984; Saint-Girons et al., 1986).