Qual foi a batalha que não sentiste ou sentes que és capaz de travar?
Em Terras de DONAN encontrava-me acompanhada de Sophia e Karl, hoje contamos uma das nossas batalhas e como vivemos na sombra dela, sem esquecer a luz que nos rodeia.
Sentada, de pernas cruzadas e as mãos junto ao coração. Karl, estava igual a mim. Os nossos corpos tocavam-se ligeiramente de uma maneira muito subtil, tentávamos acompanhar as nossas respirações e o batimento dos nossos corações.
Criamos a nossa bolha de energia, onde eu dava a minha energia e Karl devolvia em igual medida a sua. Quando sentimos que era o momento, abrimos os olhos e juntamos as nossas mãos, como uma pequena dança. Víamos a Ilha de Skye e admirávamos a sua beleza, a sua magia.
Karl, disse as primeiras palavras. Não estava à espera. Ouvi-a com toda a minha atenção, sem nunca a interromper, apenas deixei o meu coração levar-se nas palavras dela.
- “Existem batalhas que decidimos lutar, outras simplesmente deixamos que o tempo leve ou ignoramos e, depois existem outras que tentamos enterrar e não procuramos desenterrar e fingimos que elas não existem, mesmo sabendo da presença delas.”
Vivi anos a enterrar uma grande batalha, vivi anos a procurar não desenterrar, vivi anos a fingir que não existia e, essa dor acabou por me levar ao limite um dia. Continuava a não compreender onde Karl queria chegar, ou fingia que não entendia…
Para minha grande surpresa, Karl tirou do bolso do seu casaco dois pequenos espelhos, eram velhos, mas bonitos… pareciam ter sido usados muitas vezes por alguém, mas deixei as perguntas para mais tarde e, continuei a ouvir e a observar.
Karl, deu-me um dos pequenos espelhos para a minha mão, segurei, mas não olhava para ele. Karl disse-me, vou contar até três. E, quando disser três, olhamos ao mesmo tempo para ele. Simplesmente concordei com a cabeça. As minhas mãos estavam tremulas, suadas e geladas.
- Um, dois, três…
Estava de frente com uma das minhas grandes batalhas. O espelho. Sentia uma lágrima a escorrer pelo meu rosto. Via o meu reflexo naquele pequeno espelho. Atrás de mim, ouvia:
- “Há dias que o espelho é a minha maior batalha, há dias que tenho de aprender a viver com ele, há dias em que o espelho é o meu maior amigo ou o contrário, o meu maior inimigo. Todos os dias, vivo na presença dele. Todos os dias de manhã olho para ele e tento perceber o que é errado e o certo. Esta foi a batalha que eu escolhi lutar, e já vai há uns anos. Aprendi a equilibrar o meu certo do meu errado, aprendi a cuidar do meu corpo da melhor maneira, aprendi a crescer com ele. Com a idade, as coisas complicam, mas se quiseres, és mais forte que a tua batalha. Aprender a viver com o espelho, não é do dia para a noite, mas pode ser algo que queiras aprender a fazer. O equilíbrio é o mais importante.”
- Diz-me o que vês!
Fechei os meus olhos, e deixei-me levar “Vejo, alguém que não tem equilíbrio nenhum com o espelho. Vejo alguém que pensa que tudo tem defeitos. Vejo alguém que ainda não aprendeu a ver-se ao espelho e a gostar. Vejo a minha finitude. Vejo que esta é a maior batalha que tenho de travar, antes que ela me ganhe. Vejo, que uns dias é um desespero, mas noutros está tudo bem.”
Karl, tirou-me o espelho da mão. E disse, “Eu quero ajudar-te a arranjares o teu equilíbrio com o espelho.”
Nesse momento, Karl juntou os nossos espelhos e virou-os para a Ilha de Skye. Eu, apenas observei os seus movimentos, enquanto ela dizia:
- “Esta é a tua batalha, que estás pronta para combater. Mas antes de a derrotares, aprende a viver com ela. Arranja o equilíbrio e a pausa no coração. O espelho é apenas um pequeno reflexo daquilo que vês. Tal como agora estás a ver Skye. Tu é que escolhes se gostas e começas a amar ou escolhes não gostar e continuar perdida.”
Cavaleira Leão da Montanha