Passepartout ficou muito surpreendido com o que viu. Sentiu-se em 1849, na cidade dos bandidos, dos incendiários e dos assassinos, vindos em busca do ouro, um revólver numa mão e um punhal na outra. Mas “esse bom tempo” já tinha passado. São Francisco apresentava o aspecto de uma grande cidade comercial. A alta torre da Municipalidade, onde vigiavam os sentinelas, dominava um conjunto de ruas e de avenidas, que se cruzavam em ângulos rectos, entre as quais se abriam praças verdejantes; depois uma cidade chinesa que parecia ter sido importada do Império Celeste numa caixa de brinquedos. Nada de sombreros, nada de camisas vermelhas, nada de índios emplumados, mas sim chapéus de seda e roupas pretas, trajadas por um grande número de gentlemans.
Certas ruas, como a Montgommery Street - a Regent Street de Londres, o Boulevard des Italiens de Paris, a Broadway de New York - eram ladeadas por esplêndidas lojas que ofereciam à sua clientela os produtos do mundo inteiro.
Quando Passepartout chegou ao International Hotel, não lhe parecia ter saído de Londres.
O rés-do-chão do hotel era ocupado por um imenso “bar”, espécie de café-restaurante gratuito aberto a todos, que poderiam ali consumir carne seca, sopa de ostras, biscoitos e frango, sem terem que abrir a carteira. Só se paga pela bebida, ale, porto ou xerez, se a sua fantasia o levar a beber algo. Passepartout achou isso “muito americano”.
O restaurante do hotel era confortável. Mr. Fogg e Mrs. Aouda sentaram-se a uma mesa e foram abundantemente servidos em pratos liliputinianos.