
"O Cego e o Moço" é um conto tradicional português, recolhido por folcloristas como Teófilo Braga no século XIX, que reflete sobre confiança, traição e as fraquezas humanas. A história começa com um cego, humilde e necessitado, que pede ajuda a um moço para o guiar por um caminho. O jovem, muitas vezes descrito como preguiçoso ou malicioso, aceita, mas com intenções duvidosas. Em algumas versões, o cego carrega uma bolsa de moedas, fruto de esmolas, que desperta a cobiça do moço.
Enquanto caminham, o moço planeia abandonar ou enganar o cego. Numa variante, leva-o a um precipício ou pântano e foge, deixando-o à mercê do destino. Noutra, rouba-lhe a bolsa e desaparece, fingindo que o guia ainda está por perto. O cego, confiando na voz que já não responde, acaba perdido ou em apuros, gritando por ajuda que não vem. A narrativa termina com o infortúnio do cego e, por vezes, a impunidade do moço, sublinhando uma moral amarga.
A origem do conto é incerta, mas enraíza-se na tradição oral medieval, com ecos em histórias europeias sobre a vulnerabilidade dos inocentes. Em Portugal, reflete um certo pessimismo popular, onde a bondade é explorada pela astúcia ou egoísmo. O cego simboliza a confiança cega — literal e figurada — enquanto o moço encarna a traição que surge da inveja ou da falta de carácter.
A lição varia consoante a versão: pode ser um aviso para escolher bem em quem confiar ou uma crítica à falta de solidariedade. Passada entre gerações, "O Cego e o Moço" é um espelho das relações humanas, mostrando como a dependência pode ser traída por quem menos se espera.