Introdução
Os depósitos fluvioglaciários são, na Serra da Estrela, um dos vestígios mais claros resultantes da glaciação.
Na portela da Lagoa Seca (Cabeceira do Vale de Beijames) encontra-se um importante conjunto de arcos morénicos que testemunham uma pequena difluência do Glaciar do Zêzere no Máximo Glaciário (Vieira, 2004). [Mais informação sobre o campo morénico da Lagoa Seca que constitui uma importante evidência da dinâmica glaciária do Vale do Zêzere, testemunhando várias fases do seu total enchimento com mais de 250 m de espessura de gelo, pode ser consultada nestas ligações LINK1 e LINK2. É 1 dos 3 geossítios de relevância internacional do Estrela UNESCO Global Geopark.]
Mas...
...entre os 2º e 3º arcos morénicos, encontra-se uma área deprimida, que fica inundada sazonalmente e que está na origem do topónimo deste sector.
É esse aspecto que esta Earthcache pretende explorar:
An empty... 30ka sedimentary intermoraine basin!
Entre dois dos arcos morénicos, encontra-se um setor deprimido e que fica apenas inundado na estação húmida – a Lagoa Seca. Esta área é uma pequena bacia de sedimentação intermorénica, que revela uma interessante sequência sedimentar ilustrativa de uma evolução em ambiente proglaciário, quando o glaciar se encontrava posicionado junto à moreia 3, a oeste da estrada. Nessa fase, há 30 mil anos, depositaram-se finos sedimentos siltosos provenientes da fusão glaciária, formando a típica “farinha glaciária”. Estes sedimentos encontram-se a cerca de 2 m de profundidade e não são atualmente observáveis (Estrela Geopark, Ficha de caracterização de Geossítio - GF28)
O seu fundo, localizado a 1422 m de altitude, é no geral plano, e tem cerca de 130 m de comprimento e 30 m de largura máxima, desenvolvendo-se numa direcção N-S. No sector meridional da depressão existe um canal que escoa para um barranco na vertente do vale do Zêzere, embora seja pouco eficaz na drenagem (Vieira, 2004).
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Legenda: Lagoa Seca (Cabeceira do Vale de Beijames). A – Vista para norte desde os Poios Brancos. Notar os arcos morénicos à direita da estrada e o sector deprimido com cervunal, imediatamente à sua esquerda. No sector arborizado também se encontram arcos morénicos; B – Aspecto do fundo da depressão visto para norte desde a estrada. A parte clara é o fundo aplanado com cervunal. Note-se o pequeno terraço com vegetação arbustiva rasteira de cor escura (Vieira, 2004).
No fundo da depressão afloram blocos graníticos métricos, semelhantes aos que constituem os arcos morénicos. À superfície não é possível observar o tipo de material que colmata a depressão, pois esta encontra-se coberta por cervunal. Envolvendo o fundo, encontra-se um terraço com cerca de 40 cm de altura, com uma superfície em glacis, inclinada do exterior para o interior da depressão. A largura do terraço varia entre cerca de 6 e 12 m, e a sua superfície apresenta frequentes calhaus e blocos, envolvidos numa matriz de areias grosseiras e saibro.
De forma a caracterizar o material que colmata a Lagoa Seca e a estudar a sua evolução, previamente a 2004, foram efectuadas 13 sondagens no fundo e no terraço, ao longo de três perfis transversais no sentido W-E.
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Legenda: Localização das sondagens efectuadas na Lagoa Seca (Vieira, 2004).
Os resultados das sondagens permitem reconhecer o preenchimento da depressão até uma profundidade de cerca de 2 m. Nos três perfis, essa foi a profundidade máxima atingida, correspondendo às sondagens mais internas, e como se pode verificar na figura seguinte, a sedimentação parece ter-se verificado preenchendo uma forma regularmente côncava.
Os limiares máximos de profundidade correspondem à presença de rocha compacta, embora não seja ainda possível precisar se esta corresponde ao substrato ou a um nível com calhaus e blocos. É de notar que, apesar da posição intermorénica da depressão sugerir a existência de um nível morénico em profundidade, que se assemelhe aos blocos envolventes, a forma regular do nível mais resistente parece indicar tratar-se de uma bacia talhada no substrato.
As sondagens permitiram verificar que a sedimentação da Lagoa Seca é dominada por detritos de dimensão igual ou inferior às areias, geralmente homométricos, por vezes bem calibrados, ilustrando muitas variações na energia, tanto na vertical, como lateralmente.
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Legenda: Aspectos da litoestratigrafia da Lagoa Seca efectuada com base em sondagens manuais (Vieira, 2004).
É ainda notória uma diminuição geral da granulometria da base para o topo, especialmente nos dois perfis mais a norte, reflectindo uma redução da energia do sistema sedimentar. Trata-se de uma sedimentação em ambiente aquoso, que está relacionada, em larga medida, com a fusão glaciária. Todas as sondagens revelam um nível rico em matéria orgânica, de tipo turfeira, nos 50 cm superficiais.
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Legenda: Interpretação da evolução da depressão da Lagoa Seca desde o Último Máximo da Glaciação da Serra da Estrela (A, B, C, D, E) (Vieira, 2004).
A primeira fase de sedimentação registada nas sondagens corresponde a um fácies em que dominam as areias, geralmente grosseiras e mal calibradas. É notória a existência de um canal mais dinâmico na parte central dos perfis que reflecte um escoamento energético, e que apenas permitiu a sedimentação da fracção arenosa (A). A presença de um nível cascalhento pouco espesso resulta de episódios erosivos, correspondendo a um depósito residual. Esses aumentos no caudal devem estar relacionados com um maior afluxo de água de fusão glaciária. A razão de se verificarem variações granulométricas laterais tão frequentes deve estar associada à mudança na posição das correntes e canais.
Essas modificações na posição dos canais são iniciadas por um episódio erosivo, ao qual se segue a deposição de areias grosseiras mal calibradas, e depois, de material progressivamente mais fino, num regime hidrológico tipicamente glaciário, acompanhando o ritmo térmico diurno. Neste âmbito, identificam-se vários ciclos sedimentares, que são particularmente claros nos sedimentos da sondagem 11. Estas observações, aliadas à posição intermorénica da bacia, sugerem que esta fase inicial da sedimentação corresponderia a uma pequena planície de lavagem proglaciária com escoamento fluvioglaciário entrançado (B).
A metade superior das sondagens revela condições de sedimentação distintas, em particular nos casos dos perfis 1 e 2. Nestes, é notória a diminuição granulométrica geral de oeste para leste, que se traduz num sistema similar a um leque aluvial, ou a um glacis de acumulação (C). No perfil 1, nota-se a ocorrência de dois ciclos normais, separados por uma fase com maior capacidade de transporte, que originou um nível cascalhento no sector ocidental. Estes glacis devem estar associados à lavagem do material morénico pelas águas de fusão glaciária, e reflectem episódios com afluxo lento de água, interrompidos por um episódio de maior caudal, e com carácter erosivo. Este, poderá estar relacionado com a drenagem de uma massa de água localizada próximo da margem glaciária. O nível silto-arenoso com areão registado na sondagem 3, sugere a existência de um outro leque relacionado com a lavagem da moreia localizada a leste. Mais a sul, o perfil 3 reflecte um comportamento idêntico, com vários ciclos de sedimentação, especialmente desenvolvidos na parte central da bacia. Este fácies sugere a manutenção de um sistema entrançado nessa parte da bacia até ao começo da sedimentação orgânica.
A sedimentação mineral termina com a colmatação por areias grosseiras, de uma estrutura que parece ser de tipo canal, e que deve estar associada à lavagem da moreia a oeste (D). Esta sequência de colmatação da bacia pode ter demorado apenas alguns anos.
Após a retirada do glaciar, deixou de haver alimentação em água suficiente, e com a colmatação da bacia, esta tornou-se num ambiente com poucas condições para a sedimentação detrítica. Inicia-se então o desenvolvimento da turfeira associada às pobres condições de drenagem. É provável que o pequeno terraço marginal esteja já relacionado com uma evolução subactual, que se caracteriza pela formação de uma pequena lagoa de profundidade decimétrica na estação fria. Havendo coincidência entre a presença da lagoa, e os eventos de precipitação mais intensa, como efectivamente sucede, o material que continua a ser lavado da moreia vai migrar para a lagoa, mas não progride significativamente para o seu interior, formando o pequeno terraço (E).
As características granulométricas das unidades siltosas, em especial estando associadas a um ambiente proglaciário com escassa espessura de água, tornam-nas muito favoráveis para serem datadas através de termoluminescência. Duas amostras recolhidas da sondagem 13 (perfil 3), forneceram idades de 30,0 ± 4,5 TL ka BP (150 cm de profundidade) e 29,7 ± 4,5 TL ka BP (180 cm). Embora a posição estratigráfica das amostras seja inversa às idades obtidas, consideramos que não se trata de um verdadeiro problema, pois são valores muitos próximos e claramente sobrepostos ao considerarmos as margens de erro de 4,5 ka. Estas datações, casos estejam correctas são particularmente importantes pois revelam um momento já posterior ao UMGSE, em que a recessão do glaciar do Zêzere já se iniciara.
Fonte: Vieira, G. B. G. T., de Brum Ferreira, A., & Universidade de Lisboa. (2004). Geomorfologia dos planaltos e altos vales da Serra da Estrela: ambientes frios do Plistocénico Superior e dinâmica actual.
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Fonte: Estrela Geopark, Ficha de caracterização de Geossítio - GF28
Photo & Questions:
1. Take a photo near Lagoa Seca or with 3 Cântaros in the back, with you or with something that identifies you as a geocacher (nickname written on paper), and upload it to your online log (To verify the log, it's necessary at least one photo for each online log.) / Tira uma fotografia junto à Lagoa Seca ou com os 3 Cântaros como fundo, contigo ou com algo que te identifique como geocacher (papel com o nickname, por exemplo) e carrega-a no teu registo online (Para o registo ser validado, é necessário pelo menos uma foto por cada registo online.)
2. O GZ encontra-se num / GZ is located in:
a) Terraço / Terrace
b) Fundo da bacia de sedimentação intermorénica / Sedimentary intermorain basin bottom;
c) Arco morénico / Moraine ridge
3. Atualmente, nas coordenadas e superficialmente, podes encontrar / Nowadays, at GZ and superficially, you can find:
a) Turfa e cervunal / Bog and cervum
b) "Farinha" glaciária / Glacial flour
c) "Glacis" / Glacis
Please, send answers by email or message center, and feel free to log and upload some other photos than the required. / Envia as respostas por email ou message center, e fica à vontade para registares e carregares mais algumas fotos além da requerida. Obrigado! ![wink wink](https://imgproxy.geocaching.com/66d3ad30db0d56b443c9dd3f5c32d065536c0c0a?url=https%3A%2F%2Fcdn.ckeditor.com%2F4.11.3%2Ffull-all%2Fplugins%2Fsmiley%2Fimages%2Fwink_smile.png)
J.Greg e ZéSampa