QUINTA DA PORTELLA
A Urbanização da Quinta da Portela é o maior complexo residencial alguma vez projetado para a cidade de Coimbra, com uma área de implantação de aproximadamente 700.000 m⊃2; e uma área bruta de construção de 285.000 m⊃2;.
Esta urbanização prolonga, para Nascente, a malha urbana de quarteirões que estrutura o Pólo II da Universidade de Coimbra e foi projetada com o propósito de criar 2.000 novos apartamentos.
Originalmente desenhada no início dos anos noventa pelo arquiteto Camilo Cortesão, a urbanização retoma o conceito de “rua-corredor” em que as frentes construídas constituem a separação entre o espaço público e os lotes privados (quarteirões).
O uso de alguns dos quarteirões como condomínios privados promoveu a utilização reservada dos jardins, piscinas e ginásios de que alguns beneficiam. Estes condomínios foram projetados como quarteirões urbanos, com portas que abrem para a rua, com jardins no interior e comércios na periferia.
Na sua maioria, os edifícios são constituídos por dois ou três pisos enterrados para parqueamento e comércio e seis pisos elevados para as habitações.
A toponímia da Quinta da Portela é uma homenagem à história desta zona de Coimbra. A Alameda Marquesa de Pomares e a Rua Maria Vitória Bourbon Bobone evocam os proprietários da antiga Quinta da Portela, da qual ainda subsiste o Palácio e jardim fronteiro. De resto, as outras ruas evocam a história da cidade de Coimbra, como a Princesa Cindazunda e O Conimbricense, mas também outras personalidades que, de uma ou outra forma, têm Coimbra como elo de ligação, como é o caso do romancista e historiador Ruben A, que estudou em Coimbra ou o professor catedrático Eduardo Correia.
Dos mais de 100 hectares que faziam da Quinta da Portela uma das mais ricas e abastadas da região, pouco resta. Aqui existiam limoeiros e centenas de árvores de fruto, com destaque para as laranjeiras e tangerineiras, para não falar no enorme lagar de azeite que, nos seus tempos áureos, moia a maior parte da azeitona de Coimbra e arredores.
Continuam, no entanto, ainda a marcar a diferença o Palácio da Quinta da Portela, também conhecido por Palácio dos Marqueses de Pomares e jardim fronteiro, de inspiração francesa, classificados como Monumento de Interesse Público em 2015.
O Palácio da Quinta da Portela configura uma das mais interessantes casas nobres do barroco final na região de Coimbra, evidenciando superior qualidade arquitetónica e oferecendo um raro testemunho regional da sua tipologia e cronologia. Trata-se, originalmente, de uma casa senhorial do século XVI, pertencente aos Marqueses de Pomares, reconstruída nos finais do século XVIII e início do século XIX, ao estilo barroco. O edifício principal, desenvolvido em torno de um pátio interior, é uma imponente estrutura na qual se destaca a elegante frontaria, cuja composição já evidencia o gosto neoclássico.
No entanto, as referências escritas mais antigas à “Quinta da Portella” remontam, pelo menos, ao século XIV quando, em 1364, a propriedade passa das mãos do Morgado de Carvalho para o cabido da Sé de Coimbra. Depois, em 1617, é adquirida por Diogo Marmeleiro de Noronha e, entre 1741 e 1745, é arrematada em hasta pública por D. João Luís de Meneses. Esta aquisição não duraria muito tempo, pois em finais desse mesmo ano de 1745 foi vendida a Manuel de Brito Barreto da Costa e Castro, o influente Morgado de Pomares. Por sucessão, passou para as mãos de Francisco Xavier de Brito Barreto da Costa e Castro que, após a destruição total da casa por um incêndio, terá iniciado as obras de reconstrução das casas da “Quinta da Portella”.
Decorridas mais duas gerações, nasce em Coimbra, a 9 de março de 1846, Maria Manuela de Brito e Castro de Figueiredo e Melo da Costa Lorena. Veio a casar em 1860, com apenas 14 anos de idade, com o seu tio, Luiz Maria de Carvalho Daun e Lorena, irmão mais novo de sua mãe, este já com 31 anos. Durante os quase 35 anos de casamento, numa união sem qualquer descendência biológica, amparam e educam, caridosamente, filhos de caseiros e mordomos.
Luiz Maria, descendente do Marquês de Pombal e 1º Marquês de Pomares, título concedido por Decreto de D. Luís I de Portugal de 26 de maio de 1886, teve uma vida política muito ativa: foi Vereador e, mais tarde, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Deputado da Nação, Governador Civil de Lisboa e Vogal Extraordinário do Supremo Tribunal Administrativo. Luiz Maria viria a falecer no dia 2 de dezembro de 1894, com 66 anos de idade, deixando viúva a Marquesa de Pomares com apenas 49 anos.
Após a morte do seu marido, Maria Manuela vive muito afastada da sociedade, dedicando-se especialmente à sua numerosa família e aos seus pobres e protegidos. Grande devota de Santa Isabel e benfeitora da Confraria da Rainha Santa Isabel, foi também autora de um livro de prosa, “Os pobres e os ricos” (Coimbra, 1906), onde diz “delicadamente aos possuidores de riquezas como devem comportar-se com os pobres e a estes como lhes poderá ser menos pesada a cruz do infortúnio”. Este livro, cuja venda reverteu a favor da Creche e do Asilo da Infância Desvalida de Coimbra, é dedicado ao marido, ao qual tece rasgados elogios, dando dele uma imagem de um homem também preocupado socialmente.
A Marquesa de Pomares, por sua vez, falece em Coimbra em 15 de janeiro de 1926, já com 80 anos de idade. Como não tiveram descendência, fizeram o seu sobrinho, António de Brito Peixoto de Carvalho e Bourbon, herdeiro do seu património de Coimbra, onde se incluía o Palácio da Quinta da Portela e os vastos terrenos em redor. António Bourbon viria a casar com Emília Pires Sanguinetti, resultando desta união, o nascimento de Maria Adelaide de Brito Peixoto Sanguinetti e Bourbon, que se tornaria a 2ª Marquesa de Pomares, e de Maria Vitória Sanguinetti de Brito Peixoto de Bourbon. Por sua vez, esta última descendente, que viria a casar com João Baptista de Araújo de Bobone, falece em 1978, ficando, no entanto, imortalizada com a atribuição do seu nome a uma das ruas da urbanização. Foi assim, já em finais da década de 90, que, a maior parte dos terrenos onde se desenvolveu a urbanização, foram vendidos pela família Bourbon Bobone. Aquando da negociação para a venda desses terrenos, a família pediu como contrapartida que a igreja prevista no plano fosse colocada numa posição de destaque, razão pela qual foi projetada para o cimo da Alameda Marquesa de Pomares.
O nome “Portela” tem a sua origem no latim vulgar “portella”, e que derivou para “portinha” ou “porta pequena”, estando associada à localização de uma passagem estreita entre montes, usada como controlo de pessoas, carros ou animais. Estes locais, normalmente povoados, são atraídos por estabelecimentos comerciais, nomeadamente pequeno comércio e estalagens, por forma a darem assistência, de
noite e de dia, a quem pretendesse entrar ou sair na cidade. De facto, o lugar da Portela do Mondego foi-se estabelecendo junto às margens do rio Mondego, na confluência do seu afluente, o rio Ceira. Era aqui que, até ao século XIX, o trânsito de pessoas e mercadorias, que vinha de Sul e de Leste, cruzava o Mondego, numa travessia feita numa barca serrana, e que ali podiam pernoitar durante as cheias de inverno, quando a barca não pudesse atravessar. Foi já em pleno século XIX que a construção da “Porte da Portella”, em 1873, veio substituir a tradicional barca de passagem.
Fontes:
- “Especial Quinta da Portela”, Diário de Coimbra, Edição 14 setembro 2019;
- “A Marqueza de Pomares”, Illustração Portugueza, III Volume, pág. 532-534, 29 abril 1907;
- “1as Histórias contadas pela Sãorosas”, sítio consultado a 02/02/2024 em https://www.saorosas.pt/1as-historias;
- “Coimbra: Quinta da Portela 1”, blog “A’ Cerca de Coimbra”, consultado a 02/02/2024 em https://acercadecoimbra.blogs.sapo.pt/coimbra-quinta-da-portela-1-146267.
A CACHE
Esta cache pretende dar a conhecer um pouco da história da Quinta da Portela.
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