Esboço representativo do mapa
encontrado em Ga Sur
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INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos que o homem, vivendo em grupos que se
deslocavam continuamente , à procura de meios de subsistência ou em
actividades guerreiras, sentiu necessidade de conservar informações
sobre os caminhos percorridos e as suas direcções e de as
transmitir a outros. Desta necessidade surgiram os primeiros
esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros
mapas.
Ainda hoje, qualquer pessoa que não saiba ler, mas a quem se
pergunta qual o melhor caminho para ir a um lugar, é capaz de fazer
um esboço, mostrando o caminho a seguir, os factos importantes que
existam ao longo do percurso e os principais obstáculos, pelo que
se pode considerar que fazer mapas é uma aptidão inata da
humanidade. O
PRIMEIRO MAPA
O mapa mais antigo de que se tem conhecimento foi encontrado nas
escavações da cidade de Ga Sur, 300 Km a norte da Babilónia, e data
de 2500 a.C..
É uma pequena placa de argila, representando o vale de um rio,
provavelmente o Eufrates, com uma montanha de cada lado e
desaguando por um delta de três braços. Além desta, foram
encontradas outras placas, representando povoações ou mesmo toda a
Babilónia, o que mostra a importância que a cartografia tinha na
antiguidade.
Segundo a concepção que então existia, a Terra era plana, com a
forma de um disco e constituída por uma massa continental que
flutuava na água, com a abóbada celeste por cima.
A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo
levou à elaboração de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de
lugares e de povos. Estas descrições, denominadas "périplos"
(navegar em redor), são sobretudo conhecidas pelas referências
feitas pelos escritores da antiguidade, tendo chegado até aos
nossos dias muito poucas.
OS GREGOS
O pensamento geográfico sistematizado surgiu com os Gregos e a
palavra geografia foi naturalmente criada por eles e
significa exactamente «escrever sobre a Terra».
O primeiro mapa Grego de que se tem notícia foi elaborado por
Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), discípulo de Tales de Mileto,
que era filósofo, engenheiro e geógrafo.
O segundo mapa da antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto
(560-480 a.C.), que viajou por parte do mundo conhecido e escreveu
uma "Descrição da Terra", a qual era ilustrada por um mapa
em que a Terra estava representada por um disco com água à
volta.
O mundo conhecido então pelos Gregos era constituído por uma faixa
que se estendia do Atlântico ao rio Indo. As regiões a norte e a
sul eram pouco conhecidas. Considerava-se que a ecúmena (mundo
habitado) tinha uma forma oblonga, cujo eixo este-oeste possuía o
dobro do comprimento do eixo norte-sul. Os nossos termos actuais
«longitude» e «latitude» derivam deste conceito.
A esfericidade da Terra foi apenas concebida depois do século V
a.C. e surgiu como resultado da reflexão filosófica sobre a forma
ideal dos corpos, e não da observação: a esfera é a mais perfeita
de todas as formas, portanto, a Terra, obra-mestra dos deuses, deve
ser uma esfera. A ideia (de Parménides, 510-450 a.C.) foi apoiada
por Platão, que lhe deu a credibilidade necessária. As provas da
esfericidade surgiriam depois com Aristóteles.
No século IV, Dicearco construiu um mapa utilizando dois eixos
perpendiculares: um alongado no sentido este-oeste, o «diafragma»,
passando pelas Colunas de Hércules e por Rodes, e o outro, a
«perpendicular», passando por Rodes. Mais tarde, Eratóstenes
(276-196 a.C), que passou a ter a seu cargo a direcção da
Biblioteca de Alexandria e é o primeiro filósofo Grego a
autodenominar-se "geógrafo", aperfeiçoou o mapa de Dicearco,
introduzindo-lhe vários meridianos e paralelos, formando uma rede
rectangular, que constitui a rede de meridianos e paralelos ainda
hoje por nós utilizada para localizar qualquer lugar.
A partir daqui, a resposta à pergunta "Onde?", uma das
questões fundamentais da geografia, passa a poder ser dada com
rigor, pois, a partir desta altura, é possível localizar com
precisão num mapa, qualquer ponto da superfície terrestre.
Mais tarde, Hiparco de Niceia (190-125 a.C), astrónomo de Rodes,
aperfeiçoou o quadriculado utilizado por Eratóstenes. Segundo ele,
a posição rigorosa de um ponto só pode ser determinada
astronomicamente e a representação cartográfica deve ser feita
tendo como base a projecção da superfície esférica da Terra num
plano.
Hiparco utilizou a divisão da circunferência em 360º e construiu
também uma rede de paralelos e meridianos, mas projectados e
igualmente distanciados.
No século II d.C. surgiu o ultimo geógrafo da antiguidade -
Ptolomeu de Alexandria (90-168 d.C). Ptolomeu retomou as concepções
de Hiparco, tendo criado um processo de projecção cónica da
superfície da Terra num plano. Elaborou um mapa muito mais
aperfeiçoado que o de Eratóstenes, tendo representado uma área
maior.
A sua obra "Geographia" continha um mapa do mundo e vinte e
seis mapas de pormenor, constituindo o primeiro Atlas
Mundial.
IDADE MÉDIA E OS ÁRABES Posteriormente à queda do
Império Romano, e com a difusão do cristianismo iniciou-se um
período de regressão no conhecimento científico, e portanto, no
conhecimento geográfico. As causas para esta regressão podem
encontrar-se no contexto social, económico e religioso que se viveu
durante este período.
A adopção dos conhecimentos bíblicos tornou-se evidente na
cartografia. Utilizam-se mapas circulares romanos, nos quais se
introduziam caracteres teológicos, e não geográficos. Assim
Jerusalém, a Cidade Santa, ocupava o centro do mapa e o
Mediterrâneo tinha uma posição meridiana. Foi esquecido que a Terra
era esférica e reapareceu o conceito de Terra plana: um disco
circundado de água.
Mas, enquanto a ciência decaía no mundo ocidental, no mundo árabe,
com o estabelecimento do Império Muçulmano, depois do ano 800 d.C.,
passou a verificar-se um desenvolvimento científico. Devido a
problemas de ordem militar e administrativa, surgiu a necessidade
de conhecer o mundo. A geografia e a cartografia sofrem um novo
impulso.
Apesar disso, o conhecimento e as descrições geográficas produzidas
são muito imprecisas e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes
não se serviam da latitude e da longitude para localizar os lugares
à superfície da terra e elaborar mapas. Estas eram usadas pelos
astrónomos nas suas observações, mas quem elaborava a cartografia
eram os geógrafos. Surge assim no mundo árabe, e pela primeira vez
na história, uma separação clara entre geógrafos e
astrónomos.
Nos finais da Idade Média, as cruzadas, as peregrinações e o
renascimento do comércio entre a Europa e o Ocidente levaram a um
ressurgir da curiosidade pelo mundo desconhecido e, portanto, a uma
nova etapa no desenvolvimento da geografia.
Com o desenvolvimento da navegação houve necessidade de voltar a
uma cartografia realista e útil tais como os portulanos,
onde eram assinalados com notável exactidão os acidentes costeiros,
o que levou ao abandono da cartografia religiosa.
Os Árabes trouxeram para o Ocidente a bússola, que era utilizada
pelos chineses na navegação. No sec. XIV, a sua utilização veio
revolucionar o processo de construção dos mapas para a
navegação.
Através da utilização da agulha da bússola, que indica o norte
magnético, foi possível desenhar os vários rumos dos ventos,
constituindo uma rede de rumos, seguidos quando se navega a partir
de um ponto conhecido: a rosa-dos-ventos central é ligada, em todas
as direcções, a outras rosas-dos-ventos-, dispostas à sua volta
segundo um polígono de oito, dezasseis ou trinta e dois
lados. |