A Chamusca espraia-se ao longo da Estrada Nacional 118. É uma das últimas vilas ribatejanas, da borda-de-água, que mantém as características urbanísticas da região e que ainda não sofreu a pressão demolidora de um forte movimento demográfico. Porém, é notório, mesmo ao visitante mais descuidado, que tem havido um trabalho constante de melhoramento das condições de vida, acompanhado de preservação da identidade cultural. É uma vila limpa.
A vila nasceu ao longo da estrada. Na rua principal situavam-se os prédios dos moradores mais abastados; mais para o interior, acotovelavam-se as gentes das classes médias, relegando para os outeiros que cercavam a vila, as casas mais modestas do povo humilde. E quem pense que a morte iguala os homens, visite o cemitério da vila, onde encontrará reposta a mesma ordem social em tudo semelhante à terra dos vivos. Ali, na rua principal, os mausoléus dos poderosos, enquadrados pelas campas rasas, com direito a lápide perpetuadora de um nome que não quer ser esquecido; ao fundo, o chão liso, sepultura incógnita, à espera da vala comum.
Num prédio contíguo aos Paços do Concelho viveu, em meados do séc. XIX, o político Setembrista, Passos Manuel, dedicando-se à agricultura em propriedades, que, entretanto, havia adquirido. Também, por essas alturas, permaneceu algum tempo exilado na Chamusca o Infante Carlos de Bourbon, pretendente carlista e absolutista ao trono espanhol.
Paredes-meias com o Poiso do Besouro(local com comida típica da zona), encontra-se um antigo Lagar, inactivo e agora recuperado pela Câmara Municipal como um Centro de Arqueologia Industrial.
Junto ao largo da misericórdia encontra-se a igreja da misericórdia, templo do séc. XVII e não muito longe fica o Convento de S. Francisco, construído em meados do séc XVIII e desafectado do culto católito a seguir à implantação da República, é hoje um centro de congressos.
Mais acima na vila, lá mesmo no alto existe a Ermida de Nª Srª do Pranto. Construção de traços simples, caiada de branco, com listas azuis e recheada de azulejos do séc. XVIII. À esquerda do altar, um painel representa a circuncisão do Menino Jesus e a mãe, ajoelhada, lança uma lágrima furtiva, condoída do sofrimento que a origem judaica impõe ao seu filho, mal sonhando o martírio para que ele estava fadado. À direita, outro quadro mostra o jovem Jesus, sentado num trono erguido entre os doutores, mais resplandecente que todos eles. Mas se o interior é interessante, o largo fronteiriço abre-se sobre a vila e prolonga-se sobre a vastidão da lezíria, correndo ao fundo o Tejo. Lá está a Golegã, depois o Entroncamento, mais ao fundo Torres Novas e, há quem diga que em dias claros se avista Abrantes.
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É um bom mirante subir ao depósito da água - obra de 1938 do chamado Estado Novo, que quis perpetuar na legenda tamanha façanha, para que os vindouros pudessem reconhecer a visão de progresso que animava os governantes de então; as vistas são ainda mais largas, abarcando de um lado a lezíria e do outro a charneca ribatejana. No cimo de um monte surge a Ermida do Senhor do Bonfim.
Da Ermida da Senhora do Pranto, repicaram os sinos avisando o povo assustado, refugiado na Igreja da Misericórdia, do Milagre que o Senhor fez num dia chuvoso do Outono de 1807. A história conta-se em poucas palavras. Para espalharem no nosso país o ideal de igualdade, liberdade e fraternidade que o povo francês tinha lançado aos ventos em 1789, o exército de Napoleão invadiu Portugal. Ei-lo, do outro lado do rio, na vizinha Golegã onde praticou as maiores atrocidades. Concentrados nos Outeiros do Pranto e de S. Pedro, os Chamusquenses, aterrados, observavam os acontecimentos, angustiados com o seu futuro próximo: Seguiriam os franceses pela margem direita, na sua caminhada triunfal até Lisboa, abandonada à sua sorte pela Corte, que foi buscar no longínquo Brasil a chegada de melhores dias? Ou atravessariam o rio para saquear mais uma pequena vila indefesa? Abandonados pelo poder dos homens, só lhes restava rogar ao Senhor Deus da Misericórdia! Mas eis que, alegremente, se ouve o sino da Ermida da Nª Srª do Pranto. É que o Tejo, seguramente por intervenção divina, se enchera repentinamente, com uma corrente forte e caudalosa, arrastando consigo as barcas dos soldados. Chamusca estava salva!
O parque Municipal, situado no centro da Vila proporciona um bela passeio por entre os seus jardins cheios de flores e com sombras para decansar. Junto deste pode-se visitar uma casa rural tradicional, reconstruida de uma casa camponesa dos anos 30.
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